quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ensino popular: uma experiência educativa em bairros de Rivera (Uruguai)

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Estudantes do Instituto de Formação Docente e do Centro de Professores do Norte, participam desde há 3 anos num projecto de ensino popular, em Rivera, no Uruguai na fronteira com o Brasil. O semanário "Acción Informativa" conversou com dois dos protagonistas deste projecto Micaela Sarasola e Marcos Correa.




De que programa se trata?


Desde há três anos que estamos a trabalhar no projecto "Aprendo e jogo". É um projecto de educação popular que estamos a realizar no bairro Lavallja (em Rivera, Uruguai). Trabalhamos com crianças entre os 5 e os 13 anos.



O  que  ensinam  ás  criança?


É uma educação baseada em valores, mas toda a educação de valores implica aprender  os valores das crianças que vivem nessa zona. Então existe um mutuo enriquecimento entre os professores e as crianças sobre os possíveis valores para transformar a nossa sociedade.



Não  é  uma  educação  de  sentido  único?


Não,  é  uma  educação  que  queremos  que  seja  realizada  dialogando,  é  uma  comunicação  dialógica.  Através dessa comunicação vamos aprendendo e ensinando. É uma coisa muito importante para os dias de hoje, quando se perderam os valores. Na verdade não se perderam os valores,  apenas ficaram ocultados ao longo de tantos anos com os problemas sociais, conflitos, marginalização, a grande marginalização da nossa sociedade excluiu muita gente do sistema.


Aconteceu uma territorialização. A nossa sociedade está dividida em territórios, os que vivem no centro do bairro tal, a classe média, e os marginalizados no "beco". O que tentamos é ir trabalhar para essa zona e ver quais são as possibilidades que têm os oprimidos para conosco transformarem a sua  realidade. É o que pretendem os professores e as escolas, e fazêmo-lo como algo extracurricular. Aos sábados e aos domingos vamos visitar o bairro.



Que  coisas  podem  aprender  no  bairro ?


Tantos as crianças como os pais ensina-nos muito. Nós os adultos, passado algum tempo, perdemos a sensibilidade perante o mundo, as crianças não a perdem. 


Também nestes tempos pós-modernos, como é apelidado, o vínculo entre as pessoas é muito impessoal, limita-se a um "olá como estás", não falas com o teu vizinho, é um relacionamento mecânico. As crianças não perderam isso, continuam amorosos uns com os outros. Isso ensinam-te a ti de uma forma diferente, com atitudes.


Se falarmos em valores como o respeito, a concepção que uma criança tem do respeito é diferente. Hoje em dia fala-se muita da cultura da violência, ás vezes as crianças brincam com a violência, mas não quer dizer que sejam violentas, têm as suas regras. Então nós aprendemos essas regras para depois, na escola, saber abordar esse problema. Esta é uma forma de ensino. A outra é o ensino da família.


Como trabalhamos com famílias carenciadas, do ponto de vista económico, aprendemos a valorizar o que temos. Aprendemos a ver o mundo de outra maneira. Passa assim: saio de manhã para resolver o que vou comer ao almoço, como passeio e como procuro, vou falar com o vizinho, existe uma colaboração. Penso que aprendemos essa cultura de colaboração que se perdeu com o tempo.


Antigamente, como os teus pais te contaram, quando faziam uma sopa popular, davam a volta  ao bairro, um trazia um tomate, outro uma cebola, juntavam-se e faziam uma sopa. Isso voltamos a vivê-lo, aprendemos e tentamos devolvê-lo nos territórios onde isso se perdeu. Aí aprendemos novas coisas que levamos para as escolas e ensinamo-lo a outras famílias. A aprendizagem é enorme, ás vezes é difícil encontrara as palavras porque vivemos isso intensamente.




Tradução Octopus, de uma entrevista de Néstor Chavés, publicada no semanário "Acción Informativa", do Uruguai, com o qual Octopédia colabora.


http://www.scribd.com/fullscreen/75945091?access_key=key-1dvh3ka2at2yasw4hkhg




Este intercâmbio com "Acción Informativa" tem sido muito enriquecedor, permite-nos, aqui em Portugal, ter uma visão alternativa do que se passa realmente no Uruguai e na América do Sul sem ser através do meios oficiais de comunicação.
Tentarei publicar com alguma frequência os artigos que considero mais interessantes para os temos abordados neste blogue. Desde já, agradeço a honra, de todas as semanas, ver um artigo meu publicado nesse semanário.





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2 comentários:

  1. Dr. Octopus,

    Nem imagina a esperança que deposito na América do Sul. Esses povos que já sofreram a escravidão dos plutocratas ocidentais e antes a dos colonizadores. A Educação é o pilar da sociedade, é essencial. É necessária uma educação baseada na dialógica e na dialéctica. Precisamos de uma Educação humanizante e de proximidade. No Ocidente dito desenvolvido, como Portugal, EUA, Inglaterra, França, Espanha, etc. temos a manipulação."Educação" para robôs sem valores e de cérebro "lavado" para o consumo e para a guerra!
    Tentaram enterrar de vez Atenas!... e pior, conseguiram.

    Obrigada.
    Um grande abraço.

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  2. Muito bom, Fada! Nem eu diria melhor ( tenho, como se vê, muitas qualidades, entre as quais avulta a minha grande modéstia...)
    Agora a sério: acho muito sensual ("sexy" não é português... ) a inteligência. Como a sua...

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