quinta-feira, 6 de setembro de 2012

França: medidas sociais em tempo de crise

.

 


François Hollande viaja de comboio para ir às reuniões em Bruxelas




Apesar dos partidos situados ao centro direita e ao centro esquerda nunca irem desenvolver qualquer mudança política de relevo, dado que fazem parte do mesmo projecto e são filhos dos grandes grupos económicos, os de esquerda sempre tiveram uma maior preocupação social.


O actual presidente da república francesa, François Hollande, socialista, tomou posse há apenas quatro meses e já concretizou algumas medidas sociais e económicas bastante interessantes.


Não estando sob resgate financeiro, a saúde económica da França sofre com alguns dos problemas a que estão sujeitos todos os países da zona euro, no entanto as medidas tomadas são a prova que durante as crises existe margem de manobra para uma maior equidade social. 


As apostas são: uma maior transparência das políticas seguidas pelo Estado perante os seus cidadãos, taxar as grandes fortunas, taxar as transacções financeiras, apoio aos mais desfavorecidos, criação de emprego, aposta na educação e na cultura.



 Segue uma lista de algumas medidas já realizadas:


- Redução de 30% nos salários dos ministros  (que passam assim de 14 200 para 9 940 euros), do Primeiro Ministro e do Presidente da República.


- Criação de um "Pacto Deontológico" para os membros do governo, com uma declaração de não existência de conflito de interesses com o sector privado, a não aceitação de prendas com um valor superior a 150 euros, a não participação em qualquer organismo incluindo os sem fim lucrativo que interfira com as suas funções, a renuncia aos mandatos autárquicos, privilegiar as deslocações em comboio para percursos inferiores a três horas,...


- Retirada das tropas francesas do Afeganistão até ao final do ano.


- Criação de um "Livro Branco" sobre a defesa, em que será claramente definida a estratégia de defesa, as missões das forças armadas, as prioridades militares francesas e as colaborações com outras forças de defesa estrangeiras.


- Reforma aos 60 anos de idade para os trabalhadores com um longo período de descontos.


- Aumento de 25% no abono à famílias para a escolarização dos filhos.


- Baixa do tecto máximo salarial dos gestores públicos, que será agora de 450 000 euros anuais, ou seja este valor não poderá ser superior a 20 vezes a média dos ordenados mais baixos praticados nessas empresas.


- Construção de 150 000 alojamentos sociais em 2012, contra 110 000 em 2011.


- Baixa do imposto cobrado pelo estado sobre a venda de gasolina.


- Bonificação nas ajudas ao alojamento dos jovens.


- Imposto extraordinário de 74% para os rendimentos superiores a 1 milhão de euros anuais.


- Criação de mais 1 000 postos de trabalho para professores no ensino básico, 280 para o ensino superior e 14 500 para auxiliares de ensino.


- Aumento em 0,6% do salário mínimo, para além do aumento anual (1,4%) baseado sobre a taxa de inflação.


- Redução do IVA sobre os livros e os espectáculos culturais, que passa assim de 7 para 5,5%.


- Duplicação da taxa sobre transacções financeiras (que será agora de 0,2%) .


- Governo com o mesmo numero de homens e mulheres e criação de um ministro do Direito da Mulheres.


- Imposto excepcional, de 4%, sobre os stocks de produtos petrolíferos, para evitar a especulação.


- Limite de aumento anual em 2% sobre as tarifas regulamentadas do gás e electricidade.


- Aumento de 2,1% nas bolsas para estudantes.





.


5 comentários:

  1. Há vontade politica de Hollande ir contra a corrente... mas ele terá dificuldades que não ultrapassará. Ele mantém-se dentro do paradigma de que é viável introduzir uma moral no capitalismo. Não auguro a Hollande grande futuro...

    ResponderEliminar
  2. É tudo teatro... Não se deixem enganar...

    A dita "esquerda" na Europa, que estes partidos afirmam representar, não existe. Há já muito tempo que deixou de existir... A verdadeira esquerda é anticapitalista. E esta suposta "esquerda" europeia, ou mantém os meios de produção em mãos privadas, ou até os privatiza, como se pôde ver por cá. O rótulo que esta usa é - tal como o seu discurso - uma mera fachada, usada para enganar quem tem preocupações sociais.

    O Hollande é merecedor da aprovação de quem está, claramente, controlado(a) pela NOM - [1] [2]. E penso que isto, por si só, diz tudo.


    - "os de esquerda sempre tiveram uma maior preocupação social" (Ou sempre fingiram mais este aspecto, para manter a ilusão de diferença, ao mesmo tempo que são co-responsáveis pela destruição da sociedade que temos.)
    - "taxar as grandes fortunas" (Excepto as que são mesmo grandes e que estão escondidas em "offshores" e afins, como na vizinha Suíça. Taxar os "pequenos ricos" é uma maneira que os "grandes ricos" têm de eliminar a concorrência. Os grandes ricos que, como todos sabem, são quem manda fazer as leis - com alçapões incluídos - não pagam impostos.)
    - "taxar as transacções financeiras" (É uma maneira de estrangular a economia de mercado, para que - mantendo o sistema capitalista - migremos para uma economia planeada, semelhante ao Fascismo.)
    - "apoio aos mais desfavorecidos" (O "Estado Social" é uma maneira de puxar a sociedade para baixo. E de controlar as pessoas, gerindo o dinheiro que deveria ser delas. Rouba-se, sem qualquer direito, quem trabalha e dá-se dinheiro a quem não faz nada - e, com isto, desincentiva-se o trabalho, deixando-se de estimular o mesmo, ao mesmo tempo que se tira a Dignidade às pessoas, se destrói o seu espírito de iniciativa e se torna toda a gente dependente (leia-se também, sob o controlo e em situação de poder ser alvo de chantagem) do Estado, por sua vez controlado pelos grandes interesses económicos, que querem destruir, e puxar para baixo, esta sociedade.)
    - "criação de emprego, aposta na educação e na cultura" (Pura retórica. Mentiras descaradas, tal como a retórica que por cá se utiliza. Vejam o desemprego a subir em França, e não só. Vejam as pessoas a ficar cada vez mais estúpidas, ignorantes e incivilizadas. Vejam o estado a que chegaram certos bairros, nos subúrbios, em França.)
    - "a não aceitação de prendas com um valor superior a 150 euros" (Serão certamente recompensados doutras formas, não se preocupem... Bons empregos, privilégios de toda a ordem...)
    - "retirada das tropas francesas do Afeganistão até ao final do ano" (Para poderem ser utilizadas na Síria...)
    - "redução do IVA sobre os livros e os espectáculos culturais" (Para quem, tal como quem faz estas leis, ainda tem dinheiro para gastar em cultura, pois...)
    - "governo com o mesmo número de homens e mulheres e criação de um ministro do Direito da Mulheres" (A instituição de descriminação sexual, ou de qualquer tipo, não é, para mim, sinónimo de "progresso". Mas sim, um "retrocesso".)
    - etc etc...


    Julguem as árvores pelos seus frutos. Julguem os governos pelos seus resultados práticos e pelo impacto que as suas medidas têm (ou não têm) na economia. Estejam atentos ao que irá acontecer em França, sob este governo, e depois façam novo julgamento.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu amigo Fernando,

      Este teu comentário merecia só por si um artigo. Agradeço toda a tua argumentação que destrói ponto por ponto todas as medidas tomadas pelo actual governo francês, sobretudo vinda da pessoa que considero mais esclarecida politicamente do nosso pequeno grupo, e com a qual partilho os ideais.

      O objectivo da publicação desta lista era em parte de fazer pensar e de também de relatar algumas medidas, apesar de muitas delas demagógicas, que postas em prática terão seguramente algum impacto económico.

      Não me revejo em qualquer partido político, como bem sabes, claro que François Hollande faz parte do sistema e foi justamente por isso que foi eleito. UMP ou PS é mais do mesmo, servem para servir os grandes grupos financeiros que os colocaram lá.

      Contudo, penso que a redução do IVA na cultura é positivo, o aumento do ordenado mínimo (apesar de limitado) é positivo, assim como o aumento das bolsas ou uma taxa extraordinária sobre os stocks petrolíferos.

      O resto não passa de demagogia, e claro que nenhum governo irá atacar os problemas essenciais porque esses grandes grupos económicos e financeiros utilizam e perpetuam o sistema capitalista para proveito próprio.

      Um grande abraço e obrigado pela clarevidência dos teus argumentos.

      Eliminar
    2. De nada. E aproveito para acrescentar...

      - Sobre as bolsas, só concordo com a existência das mesmas, quando seja para que a pessoa que se vá formar vá, mais tarde, beneficiar de volta a comunidade que lhe pagou os estudos. De resto, não vejo, não só nenhuma justificação para tal como, acima de tudo, não reconheço o direito a alguém de extorquir dinheiro aos contribuintes, para os obrigar a financiar os estudos doutrem. (Já ouviram falar em empréstimos a estudantes, como se faz noutros países?)
      - A subida do ordenado mínimo será, certamente, compensada pela imensa subida de impostos que, se ainda não chegou a França, irá certamente também lá chegar. (E possivelmente pela inflação que poderá/deverá ocorrer, derivada da criação de dinheiro que tem sido feita, que dizem que é para tentar resgatar os bancos.)
      - E a taxa sobre os stocks petrolíferos poderá ser uma maneira de compensar a diminuição do imposto sobre a gasolina. (Com o embargo petrolífero que se iniciou entre a Europa e o Irão, e no estado em que está o mercado petrolífero, em geral, só um louco é que não pensa em criar reservas para lidar com possíveis interrupções na distribuição. A razão que o governo francês apresenta para taxá-los parece-me mera desculpa esfarrapada. E não irá esse imposto, como sempre, repercutir-se no consumidor final, acabando por ser ele a pagá-lo? - Tiram de um lado e põem do outro... E, com estas medidas, convencem toda a gente que estão do lado do Povo.)

      Concordo que o meu comentário acaba por merecer um artigo, em si mesmo. Irei então chamar a atenção para este numa das próximas colocações no meu blogue. :)

      Um abraço.

      Eliminar
  3. Concordo com tudo o que diz Fernando Negro e não partilho da esperançosa ingenuidade de Dr. Octopus...

    ResponderEliminar