sexta-feira, 24 de maio de 2013

A morte de Hipócrates

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Grande parte dos médicos não têm um conhecimento profundo dos tratamentos farmacológicos que estão a administrar, apenas têm uma vaga ideia formatada pelo que lhes foi tramitido durante o curso. 

O curso terminado,  a maioria não põe em questão os novos medicamentos que surgem no mercado, confiam na informação transmitida pelos delegados de informação médica ou nos estudos patrocinados pelos laboratórios farmacêuticos que os comercializam.





Delegados de "desinformação" médica.


A principal formação que recebem os delegados de informação médica, após uma formação técnica rápida sobre o medicamento, é a melhor maneira de convencer o médico a prescrever a todo o custo esse medicamento.


Estes delegados são comerciais, como tal, bem poderiam apresentar a mesma convicção ao vender uma caneta, uma marca de detergente ou um político. O método é o mesmo: valorizar o produto, minimizando os efeitos secundários ou simplesmente ignorando a sua ineficácia ou inutilidade.


Esta venda é feita cativando o médico de várias maneiras: saber ouvir, fingir-se muito interessados na vida privada do médico que têm à sua frente (familia, filhos, hobbies), com a finalidade de ganhar a sua confiança.


Os laboratórios recrutam delegadas de informação médica que bem poderiam ser modelos de passarela ou jovens e atraentes delegados de informação médica. Existe muitas vezes, nestes casos, um verdadeiro jogo de sedução, no limite, um verdadeiro jogo de atracção sexual.


Sedutores e bem-falantes, propõem jantares nos restaurantes mais badalados da cidade ou estadias em hotéis cinco estrelas, tudo pago, claro, pelo laboratório farmacêutico que representam. Neste contexto, muitos médicos sentem-se reis e rainhas envoltos pelo glamour efémero das circunstâncias.


Por vezes, e não raras, são viagens de luxo a países distantes que são oferecidas, a pretexto de um qualquer congresso ou simpósio, que a maioria nem sequer frequenta.


Perante tantas mordomias, como não se deixar convencer e recusar prescrever o medicamento promovido, acabado de ser colocado no mercado (os mais rentáveis) fundamentado em estudos apressados, testados em populações miseráveis da Ásia ou de África, cobaias com características corporais e culturais muito diferentes das nossas, cobaias esses que nunca irão ter direito a beneficiar dos medicamentos pelos quais foram testados.






Médicos ao serviço da indústria farmacêutica.


Existem alguns médicos que trabalham diectamente para benefício da indústria farmacêutica. Os menos perigosos são aquelas que se aproveitam do sistema: os directores clínicos dessa indústria, que abertamente beneficiam das mordomias e salários altíssimos pagos para ocuparem esses postos. Claro que defendem o laboratório para o qual trabalham, mas estão "simplesmente" a cumprir uma função.


Os mais perigosos são os encaputados, escondidos através de um qualquer título ou renome e que definem as "guidelines" nacionais e internacionais que a generalidade dos médicos segue sem questionar, a troco de elevadas compensações monetárias. Constatamos que muitos deles têm assento nos laboratórios produtores dos medicamentos que defendem.


Sem questionarem os numerosos estudos existentes sobre um determinado medicamento, a maioria dos médicos acredita piamente nas conclusões elaboradas por esses gurus. Acreditam estar a prescrever o melhor para os seus doentes.


O grande problema está na maneira como são realizados os famosos estudos clínicos que se tornam os padrões das futuras prescrições.







Como falsear um estudo clínico.


Tudo começa pelo simples facto que 95% dos estudos clínicos, devido em parte ao seu elevado custo, são concebidos e realizados pelos laboratórios que produzem o medicamento que querem vender, logo, ninguém no seu perfeito juízo irá falar mal do que pretende vender.


Os estudos elaborados pelos laboratórios são depois entregues a um conjunto de médicos que, ou porque acreditam genuinamente no medicamento ou porque lhes trás benefícios monetários, têm logo á partida uma tendência natural para encarar os futuros resultados desses estudos, de forma favorável em relação ao medicamento em estudo. Começa aqui uma das partes tendenciosas do estudo.


Durante a selecção dos doentes, com as caracteristicas necessarias para entrar no estudos, um conjunto deles, apesar de reunirem essas condições é eliminado por directrizes previstas pelos laboratórios que elaboraram o estudo. São doentes que poderiam por em causa os resultados positivos esperados, ficando apenas aqueles "perfeitos" para que tudo corra bem, isto é que tenham a maior probabilidade do medicamento em questão ter bons resultados.


Muitas das vezes, no decorrer do estudo, os doentes que fogem aos padrões esperados são simplesmente eliminados do estudo.


Finalizado o estudo, os dados são entregues a uma empresa de analise de dados contratada e paga pelo laboratório que encomendou o estudo. Essas empresas de analise não querem perder o cliente que a sustenta, por isso rezam para que os resultados sejam favoráveis ao medicamento estudado. E não é que corre tudo bem, e que os resultados são mesmo favoráveis!


De qualquer maneira, os que se revelam desfavoráveis, apesar de esticar os resultados positivos são guardados numa gaveta e nunca serão publicados.


Para aumentar articialmente os resultados favoráveis, várias técnicas são postas em prática. Por exemplo, na analise estatística, as referências mal defenidas são desvalorizadas (por exemplo: não sinto uma grande melhoria da dor, transcrito para: melhor ) ou maximizadas (por exemplo: melhorei um pouco da dor, transcrito para: bastante), numa escala de: pior, igual, melhor, bastante.


Outra técnica é usada na elaboração das curvas e histogramas estatísticos. A representação gráfica é feita de maneira a parecer que um determinado resultado positivo é bastante superior aquele que é na realidade. O efeitos secundários são frequentemente atribuídos a outros medicamentos (geralmente os doentes estão polimedicados).


A próxima fase é contactar um médico "bem cotado" pelo seu estatuto profissional, que seja uma fonte de credibiladade inquestionável para a restante classe médica. A troco de elevadas quantias monetárias vai vender o medicamente em congressos e colóquios. O resto, já vimos, cabe aos delegados de informação médica.






Uma imensa teia de interesses.


Quando um medicamento começa a causar problemas, são desvalirizados e os seus críticos ostracisados. Quando surgem estudos independentes contrários ao medicamento, pura e simplesmente não são publicados, dado que as revistas médicas estão nas mãos de decisores médicos que justamente também trabalham para a indústria farmacêutica.


Os organismos nacionais que fiscalizam os medicamentos, como o Infarmed em Portugal, estão nas mãos da indústria farmacêutica, e portanto não querem matar a galinha de ovos de ouro. O mesmo se passa com os organismos internacionais, 95% das receitas da OMS provém de subvenções da indústria farmacêutica, muitos delas a coberto de Fundações fictícias dessa indústria. Nestas condições como garantir a independência?


Quando finalmente um determinado medicamento, demasiado prejudicial para a saúde é retirado do mercado, muitas vezes após anos de denúncias e algumas mortes, é somente quando a sua rentabilidade financeira já foi amplamente atingida.






A deriva da medicina.


Não é pois de estranhar que na medicina actual sejam colocados cada vez mais frequentemente medicamentos insuficientemente estudados, alguns posteriormente retirado do mercado, após várias mortes, mas que entretanto já renderam milhões de dólares.


Não é pois de estranhar que sejam colocados no mercado medicamentos que são "mais do mesmo" em que diferem do anterior com uma simples alteração molecular e que não trazem nada de novo, a não ser obter a tão famigerada patente que lhes permite não serem copiados nos anos seguintes. Vendidos como inovação, mais caro que os anteriores, que até funcionavam, permitem aos laboratórios arrecadar milhões de dólares.






O exemplo do colesterol.


Não é de estranhar, que desde que os laboratórios decidiram tomar contar de uma das mais frequentes causas de morte, as doenças cardiovasculares (não é puro acaso que escolhem as mais frequentes, aquelas que dão mais dinheiro, menosprezando as pouco frequentes), tivessem de escolham uma vítima, neste caso o colesterol.


Hoje em dia, a propaganda está tão bem feita, que não existe praticamente ninguém que não tenha o colesterol demasiado elevado e, claro, que tome a sua estatina. Aliás os valores optimais não para de descer, óbvio, quanto mais gente estiver fora desse valor considerado "normal", mais serão vendidas estatinas.


Este exemplo reflecte bem o poder da indústria farmacêutica que consegue vender o que quer, começando por criar o medo, através de "estudos" promovidos e pagos pelos próprios laboratórios, soburnando médicos de renome, para diabolizar este famoso colesterol junto da população e dos médicos prescritores.


O raciocínio parece lógico, como não poderia deixar de ser, se aceitarmos as premissas: nas doenças cardiovasculares, existe frequentemente uma acumulação de gordurana artérias, o colesterol é uma gordura, logo o colesterol é o grande culpado destas doenças.


Por outro lado, descobriu-se que as estatinas baixavam os níveis de colesterol, o que é verdade, logo conclui-se que baixando os níveis de colesterol estariamos a baixar o risco de doenças cardiovasculares.


Tudo certo, excepto que a correlação directa entre o colesterol elevado e as doença cardiovasculares não está provada, muitos outros factores existem. A mortalidade global nunca baixou nos doente medicados com estatinas, o que poderá ter baixado é a morbilidade para determinadas doenças das quais as cardiovasculares, o que não é a mesma coisa.






O poder da persuasão contra o poder do raciocínio.


Através de estudos falsificados, todos pagos pela indústria farmacêutica, da corrupção de certos médicos e da divulgação em grandes revistas científicas controladas por essa mesma indústria, chaga-se a uma estratégia de comunicação em que se utilizam argumentos lógicos e racionais para se induzir a necessidade de consumir uma determinada substância medicamentosa.


Outro exemplo típico passa-se com a quimioterapia, para a qual os estudos revelam que a mortalidade global não baixa ou de forma pouco significativa com o seu uso, e neste último caso o que poderá melhorar são algumas formas de morbilidade, o que mais uma vez não é a mesma coisa. Aqui confunde-se voluntariamente a correlação inexistente entre a redução tumoral, que se verifica com a quimioterapia, e o maior tempo de sobrevivência, que não se verifica.


Muitos outros exemplos poderiam ser citados, o que importa aqui é salientar que o tempo em que os investigadores estudavam a melhor maneira de curar ou minimizar as consequências de uma determinada doença, isolados nos seus laboratórios de fortuna, acabou.


O que temos é uma poderosa indústria farmacêutica, a terceira a seguir às energéticas e financeiras, que promove fármacos que não se destinam a minorar o sofrimento humano, mas a fazer dinheiro a qualquer custo, ou perpetuar certas doenças rentáveis, tudo feito à custa dos doente, muitas vezes prolongando as próprias doenças, tanto faz, o que interessa é o dinheiro.





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29 comentários:

  1. Excelente texto.

    (O melhor, até, que alguma vez me lembro de aqui ter lido.)

    Parabéns pela elaboração do mesmo.

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  2. Sobre a falsificação de estudos médicos, este é apenas um artigo que prova isso mesmo: http://www.prisonplanet.com/big-pharma-researcher-admits-to-faking-dozens-of-research-studies-for-pfizer-merck.html

    E sei que há até quem, nos EUA, tenha escrito um livro inteiro sobre o assunto. (Lembro-me de ouvir um pouco de uma entrevista, no programa de rádio de Alex Jones, a quem escreveu tal livro - em que o autor falava do facto de serem dadas somas muito elevadas de dinheiro a médicos que assinavam estudos, sem analisar os mesmos e, simplesmente, a pedido da indústria farmacêutica - mas não fiquei com as hiperligações para tal entrevista e tal livro. Mas, irei tentar encontrá-las.)


    Quando à toma de medicamentos, por saber eu (e ser capaz de me aperceber) que alguns deles são, na realidade, desnecessários e que só servem para dar dinheiro à indústria farmacêutica, já comecei a tomar a decisão de não tomar (ou não me preocupar em tomar) alguns - incluindo, há algum tempo atrás, um para efeitos de redução do mencionado colesterol. E, o que é verdade é que, se resolveram os problemas de saúde que eu tinha, sem a ajuda dos mesmos.

    Pois, caso não saibam, o nosso organismo é, em muitos casos, capaz de recuperar, por si próprio, quer dos vários desequilíbrios que tenha, através de uma simples mudança na dieta, quer de algumas pequenas doenças, não graves, que é capaz de derrotar, através do seu sistema imunitário.

    Aliás, quem ainda não tem por hábito elaborar, por si mesmo, alguns medicamentos naturais, com conhecidas propriedades curativas, e mudar simplesmente o seu estilo de vida, para se tentar ver livre de algumas enfermidades, é bom que se comece a habituar a isso... Pois, derivado do Colapso que estamos já a viver, não são só certos produtos que começam a faltar nos hipermercados (e dinheiro que começa a faltar para os mesmos). Mas, também medicamentos, em tudo o que são farmácias. (Pelo menos, na minha localidade, é isso que se tem vindo a observar...)

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    1. Fernando,

      Obrigado pela referência do link, caso que já conhecia.

      Obrigado pelas tuas palavras que bem sabes não me são indiferentes.

      Como sabes, tento escrever artigo originais, isto é meus, não são cópias de artigos já publicados, o que me dá imenso trabalho.

      Apesar do tempo escasso que tenho, tento sempre ir às fontes e ler estudos e opiniões diferentes, mesmo da minha.

      Tento sempre alertar as pessoas para uma panóplia de visões diferentes do que é estabelecido como verdade, mesmo que, e sobretudo, diferentes das minhas.

      Depois cada um deve tomar e considerar essas ideias e decidir, mas pelo menos tento que considerem que existem outras vias e opiniões.

      Agradeço o teu comentário, vindo de uma das pessoa que considero das mais esclarecida que encontrei na internet, mas isso já te o disse muitas vezes.

      Aquele abraço genuíno de militante por causas utópicas mas que fazem toda a diferença.

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  3. Muito bom artigo. Parabéns pelo trabalho.
    Infelizmente são poucos os que vêm para além das aparências, que se questionem sobre a verdade...
    Infelizmente também a indústria farmacêutica continua atacar os produtos naturais e com isso vamos vendo a serem reduzidas as hipóteses de prevenir e tratar a nossa saúde...
    Perante tudo, não deixa de ser impressionante como esse sistema da industria farmacêutica funciona com grande eficácia...

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    1. Caro anónimo,

      Como médico posso lhe dizer que conheço bem esse meio e que muitas vezes fui confrontado com esse tipo de propostas aliciantes. Por as ter recusado e criticado, sempre fui atacado, daí o meu anonimato.

      O mundo da medicina é um mundo sujo, como tantos outros, mas este é particular porque "mexe" com valores sagrados, da condição humana.

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  4. Não é nenhuma destas a pessoa de que eu falava, num comentário anterior, que escreveu um livro sobre a corrupção na indústria média. Mas, estes são apenas uma citação e um artigo recente onde esta foi incluída, que podem ser encontrados num dos sítios do Alex Jones, que é simplesmente a pessoa que conheço que mais tem exposto este tipo de incrível corrupção.

    "It is simply no longer possible to believe much of the clinical research that is published, or to rely on the judgment of trusted physicians or authoritative medical guidelines. I take no pleasure in this conclusion, which I reached slowly and reluctantly over my two decades as an editor of The New England Journal of Medicine."
    --- Marcia Angell, MD, The New York Review of Books, January 15, 2009


    http://www.prisonplanet.com/the-medical-cartel-too-big-to-fail-too-evil-to-expose.html

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  5. Conheço uma anedota que diz:
    Se está doente, vá ao médico, afinal ele tem que viver. Se ele receitar medicamentos, vá aviá-los à farmácia, afinal o farmacêutico tem que viver. E quando chegar a casa, jogue fora os medicamentos, afinal você também tem que viver...

    Anedotas à parte, uma coisa que também percebi recentemente é a aura de sacralidade e infalibilidade que envolve os médicos. Ninguém questiona, porque afinal eles são os doutores, eles têm os cursos, eles sabem de saúde mais do que nós, meros mortais. Quando digo ninguém questiona, refiro-me aos próprios doentes, que tratam os médicos como deuses e entregam-lhes assim, de mão beijada, o seu poder em relação à sua própria saúde, desresponsabilizando-se. Depois, se algo corre mal, a culpa é do doutor, que me receitou o medicamento errado. E dessa maneira, "protegidos" pelos medicamentos e autoridade do senhor doutor, continuamos a ter uma péssima alimentação, que se fosse devidamente equilibrada, só por si resolveria muitos incómodos de saúde. A medicação, do meu ponto de vista, é a desculpa perfeita para continuarmos com hábitos alimentares destrutivos, sem assumirmos a profunda responsabilidade que é cuidarmos de nós próprios.

    Quanto ao livro referido pelo caro Fernando Negro, há um que li que trata desse assunto, mas do que me recordo, tem a ver com a realidade da Alemanha. Chama-se Os Inventores de Doenças, de Jorg Blech, e retrata as manobras sujas da indústria farmacêutica em relação a várias doenças e condições, como o colesterol, a hipertensão, a menopausa, a andropausa... Vale a pena ler, certamente a realidade alemã não é nada diferente da realidade mundial.

    Dr. Octopus, grata pelos seus artigos. Interesso-me especialmente pelos temas relacionados com a saúde e tenho aprendido muito aqui. Obrigada.

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    1. Lucia,

      Conheço o livro a que se refere, e vale a pena ler.

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  6. Muito bem estruturado o post.

    Grata .

    Vou querer mostrá-lo a médicos que conheço, esperando talvez que "caiam na real".

    Oh "naif" que sou...

    Continuação de ótimo trabalho!

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    1. Obrigado,

      Pela força que me dás e que muitas vezes me começa a faltar.

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  7. Estimado Dr. Octopus, mais uma vez, um artigo sábio que demonstra a preocupação que tem pelos seus semelhantes. Bem haja!

    Quão melhor viveríamos todos se houvessem muitos Drs. Octopus espalhados por esse mundo.

    Muito grata, mando-lhe um enorme abraço carregado de admiração!

    Isabel

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    1. Obrigado Isabel,

      Sobretudo vindo de uma pessoa que muito preso.

      Um beijo

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  8. Deixo aqui do Brasil, um abraço de compartilhamento e solidariedade com teus artigos. Que bom que a grande maioria de internautas pudessem ver esse artigo, pena que estão ligados em outra sintonia.

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  9. Seria fantástico se mais gente tivesse acesso a este trabalho.
    Obrigada.

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  10. Muito bom texto.
    Fui delegado de (des)informação medica durante vários anos, subscrevo e acrescento com conhecimento de causa que a prescrição de antibióticos, protetores gástricos e anti hipertensores são um negócio com vender parafusos, só números...

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  11. Octopus

    Lí o texto logo que você postou, mas não tive tempo de comentar, retorno agora para lhe dizer o quão importante é esse assunto e agradecer a você como médico por dar um depoimento desta importancia.
    Tomarei a liberdade de divulgar em meu blog, quanto maior o número de pessoas que venham a saber desta estratégia das indústrias farmaceuticas menor será o número de pessoas manipuladas em prol desta máfia branca.

    Um grande abraço meu amigo

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  12. Octopus

    Abaixo do teu post coloquei em meu blog este "Treinamento" (manual) do Representante (delegado) da Indústria Farmacêutica:

    http://www.trackdigital.com.br/colher_cha/?tag=industria-farmaceutica

    Espero que não se incomode.

    Um grande abraço meu amigo

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  13. Excelente informação. Obrigada e um abraço!

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  14. Caro Octopus,
    Prestas um serviço fabuloso denunciando essa camarilha!!
    Evito postar aqui por conta de minha agressiva forma de ver a medicina, mas sei que se a medicina fosse cuidada da forma com que o faz, eu não seria tão agressivo!!
    Como lembro, não és exemplo, és a excessão que confirma a regra.
    Denunciar essa agenda exige coragem!!!
    Coragem pertinente a quem encara vesperos e víperas!!!
    Víperas esculapianas!!! :-D

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  15. Vapera,

    Vindo de si (de ti?) essas palavras não me são indiferentes.

    Tento e sempre tentarei ter uma opinião objectiva em relação à medicina que pratico.

    A medicina (os médicos) não são Deuses (não te esqueças que sou ateu convicto) e as suas praticas consciente ou inconscientemente estão formatadas pelo sistema vigente. Um lobby poderoso que não o deveria ser.

    O centro das atenções deveria ser simplesmente o ser humano.

    Um abraço

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  16. Bem! Isto tem panos para mangas:

    "Por vezes, e não raras, são viagens de luxo a países distantes que são oferecidas, a pretexto de um qualquer congresso ou simpósio, que a maioria nem sequer frequenta."

    apifarma: Código Deontológico para as Práticas Promocionais da Indústria Farmacêutica e para as Interacções com os Profissionais de Saúde - Artigo 13º

    Se os médicos faltam ao congressos para passear fica na consciência deles.

    "...acabado de ser colocado no mercado (os mais rentáveis) fundamentado em estudos apressados, testados em populações miseráveis da Ásia ou de África, cobaias com características corporais e culturais muito diferentes das nossas, cobaias esses que nunca irão ter direito a beneficiar dos medicamentos pelos quais foram testados."

    Estudos apressados.. Por isso é que se demora 10 anos a aprovar um medicamento. Pelo contrário, caro, é necessário que os estudos sejam mais rápidos e mais baratos, ou em breve deixa de haver investigação nos preciosos medicamentos que salvam vidas.

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    1. Caro anónimo,

      Como médico, fui abordado várias vezes por delegados de informação médica para participar em congressos em que o tema não era importante, o que destacavam era a estadia de luxo com tudo pago.

      Esta participação não era inocente, mas sim a troco da prescrição de uma certa quantidade de um determinado medicamento.

      Por estas e outras razões é que não recebo os delegados de informação médica.

      Quando me fala de código deontológico, que limitaria tais atitudes, ou não está a falar a sério ou está a ser ingénuo.

      Quanto aos 10 anos de que fala para a aprovação de um determinado medicamento, esse prazo já não é verdade, cada vez mais existem maneiras de o encortar e daí verificar-se cada vez mais a existência de medicamentos que posteriormente são retirados do mercado por efeitos secundários por vezes mortais.

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    2. Nunca gostei de delegados de informação médica, acho a profissão um pouco desprezivel, mas ao ritmo que é publicada informação de relevância para os médicos, de que forma é que o médico se mantem actualizado? Ler tantos artigos e participar em congressos é praticamente impensável. Medical liasons ainda não há muitos, e talvez os médicos nem sabem da existência deles. Os delagados chegam com a informação e cabe ao médico esquecer que ele é um vendedor, e aceitar, sim, a informação que trás, julgando-a.

      Talvez esteja a ser ingénuo, que, faço o disclaimer, sou da área farmacêutica, e acredito que se o código existe, deviamos cumpri-lo.

      Medicamentos aprovados em menos de 10 anos? Está a falar de estudos adaptativos, em aplicação das iniciativas IMI ou CPI? Embora os medicamentos sejam aprovados mais depressa nestas iniciativas (e ainda estamos longe do ideal) a sua venda é limitada a um sub-género de doentes muito especifico. Como um medicamento feito à medida.

      E destaco, se não estou equivocado, (estatisticas vistas para 2006, nos USA), morrem mais pessoas por negligência médica do que por efeitos secundários indesejados. E nestes efeitos secundários overdoses de anestésicos, reacções imunitárias e até suicidios por overdose, devem ser as fatias maiores de uma tarte amarga.

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  17. Deve saber que se uma empresa testa um medicamento a numa pessoa e se este for benéfico para ela, a empresa tem que fornecer o medicamento a essa pessoa até o medicamento entrar no mercado? Sabe do ICH, da EMA, das suas leis? Sabe da necessidade de um medicamento feito no Japão ter que ser testado em populações europeias, antes de entrar no nosso mercado?

    "Os estudos elaborados pelos laboratórios são depois entregues a um conjunto de médicos que, ou porque acreditam genuinamente no medicamento ou porque lhes trás benefícios monetários, têm logo á partida uma tendência natural para encarar os futuros resultados desses estudos, de forma favorável em relação ao medicamento em estudo."

    Está propositadamente a esquecer os ensaios clínicos randomizados duplamente cegos, os ensaios-tipo para aprovar um medicamento?

    São doentes que poderiam por em causa os resultados positivos esperados, ficando apenas aqueles "perfeitos" para que tudo corra bem, isto é que tenham a maior probabilidade do medicamento em questão ter bons resultados.

    Se fossem escolhidos doentes com 1001 patologias, ao testar um novo medicamento a única coisa que os dados iam "dar" era ruído de fundo. Para além de por em causa a vida desses mesmos pacientes com possiveis interacções medicamentosas. De qualquer modo: está a esquecer-se dos ensaios de fase IV? Em que se seguem doentes comuns?

    De qualquer maneira, os que se revelam desfavoráveis, apesar de esticar os resultados positivos são guardados numa gaveta e nunca serão publicados.

    Mais um erro: as revistas não gostam de publicar ensaios que correm mal: não vendem. Mas já há, (basta pesquisar) revistas próprias para ensaios clínicos com maus resultados.

    "Para aumentar articialmente os resultados favoráveis, várias técnicas são postas em prática. Por exemplo, na analise estatística, as referências mal defenidas são desvalorizadas (por exemplo: não sinto uma grande melhoria da dor, transcrito para: melhor ) ou maximizadas (por exemplo: melhorei um pouco da dor, transcrito para: bastante), numa escala de: pior, igual, melhor, bastante."

    Quem aprova os medicamentos, leia-se FDA e EMA, não querem apenas o resultado estatístico, querem os dados por detrás deles, querem tudo o que prove o que foi escrito. Porquê? Para verificar se tudo o que foi escrito é verdadeiro. Se fosse tal como o caro afirma que é, haviam imensos medicamentos aprovados (mais do que actualmente).

    "A mortalidade global nunca baixou nos doente medicados com estatinas, o que poderá ter baixado é a morbilidade para determinadas doenças das quais as cardiovasculares"

    O problema é apenas como a iformação é apresentada? As estatinas providenciam qualidade de vida, mas porque não baixam a mortalidade, então mais vale esquecermos as estatinas?

    "Através de estudos falsificados, todos pagos pela indústria farmacêutica"

    Claro, as academias não entram no jogo. Nem a NICE da NHS.

    Eu até cedo que a indústria farmacêutica pode ter pessoas gananciosas, mas este texto soa quase a caça às bruxas. Hipócrita era ignorar o peso dos medicamentos na nossa experança de vida.

    http://lifewithhammy.files.wordpress.com/2008/04/naturalist-cartoon.jpg

    Cumprimentos.

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  18. A propósito dos ensaios duplamente cegos, sabia que por exemplo no caso das vacinas, estes são realizados com a vacina em estudo e um grupo de pessoas que recebe um placebo, que no entanto contem os mesmos adjuvantes. Porquê? Para minimizar o impacto dos efeitos secundários desses adjuvantes.

    Concordo que não é benéfico escolher doentes com 1001 patologias para testar um medicamento, mas os doentes que tratamos raramente são doentes perfeitos com uma única doença, frequentemente são polimedicados. Ora frequentemente, por exemplo, são escolhidos doentes com um determinado problema cardíaco e testado o respectivo medicamente, nesse doente "perfeito" com unicamente esse problema cardíaco. No entanto, esses doentes têm frequentemente outras patologias como hipertensão arterial, insuficiência vascular, renal... e o medicamento testado irá ter repercussões nessas doenças e interacções com os medicamentos tomados.

    Os resultados desfavoráveis são efectivamente omitidos, mais de 90% dos estudos nunca são publicados.

    Quando acredita que organizações como a FDA, para apenas citar essa, controla e aprova de maneira isenta a colocação no mercado de um determinado medicamento, está-se a esquecer que 90% do orçamento da FDA é proveniente de doações de fundações ligadas...aos laboratórios farmacêuticos.

    Pessoalmente, não vejo em quê as estatinas melhoram a qualidade de vida de um doente, excessivamente preocupado sim com a medição doentia do valor do seu colesterol, sem que isso implique uma maior esperança de vida, dado não reduzir a mortalidade.

    Por fim, as várias fases dos estudos clínicos de um determinado medicamento são tão caras que, infelizmente, apenas os próprios laboratórios que promovem a sua própria molécula o podem fazer. As raras excepções são alguns estudos independentes, mas quase sempre após a colocação no mercado do medicamento, e esses quando desfavoráveis são ostracisados.

    Cumprimentos

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    1. Chama-lhe adjuvante, que são excipientes, que devem ser iguais tanto como na vacina como no placebo (e não vejo razão para dar vacinas placebo a não ser na gripe em que a mortalidade deve ser baixissima e assim talvez, e só talvez, a ética o permita), por obrigação, pois tem que se saber que o efeito é do principio activo e não de um dos excipientes.

      Mesmo antes do medicamento ser aprovado, em ensaios da velha fase III, existem ensaios de medicação concomitante, para ver possíveis interacções. Depois de serem aprovados, a fase IV, o medicamento continua em avaliação, agora nesses doentes imperfeitos polimedicados. Todos os anos a empresa que comercializa este medicamento é obrigada a enviar um PSUR (periodic safety update report) que só tem efeitos secundários. Se o ráciio beneficio-maleficio continuar positivo é que o medicamento continua no mercado. Adicionalmente, qualquer reacção adversa grave a um medicamento tem que ser notificada dentro de dois dias (os médicos são os pricipais notificadores, dado que são eles que prescrevem), e o perfil do medicamento é revisto novamente. Durante esse período é provável que a venda do medicamento seja suspensa.

      Reduzem a morbilidade, por outras palavras, reduz os portadores da doença, reduz os efeitos desta, logo, embora possam morrer ao mesmo tempo que os outros, tem mais tempo com qualidade de vida quando comparado a doentes que portam a doença. (sou sincero, estatinas não é a minha área, estou a basear-me nas suas permissas, apenas tocando nos termos de morbilidade, qualidade de vida e mortalidade).

      Há muitos estudos medicamnto versus medicamento de marcas, entidades diferentes. Por exemplo adalimumab versus infliximab (abbvie vs janssen), promovidos por uma das empresas para provar superioridade. A NICE faz estudos iguais. Isto para dizer que os estudos não são só pro-medicamento. A indústria farmacêutica não é um complô perfeito, existem rivalidades, existe competição, e existem estudos a demonstrar as falhas dos medicamentos. Alguém que se interesse pela área não terá dificuldades em encontrar a informação.

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  19. A prescrição electrónica e a prescrição por DCI não tornam a corrupção mais difícil?

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  20. Caro anónimo,

    Tem toda a razão, esse facto poderia, em teoria, minimizar a corrupção.

    Contudo a prescrição por DCI faz com que essa prescrição (venda) passe dos médicos para os farmacêuticos.

    A prescrição por DCI faz com existam numerosos laboratórios a produzir o mesmo princípio activo, logo existe uma grande concurrência entre os laboratórios.

    O que temos é uma espécie de concurrência como acontece entre a Coca-Cola e a Pepsi-Cola perante os restaurantes: se vender Coca-Cola (em vez da concurente) por cada 10 vendidas terá 3 de borla.

    O mesmo se passa com as farmácias se vender um DCI de tal laboratório terá uns tantos de borla.

    A verdade é que cada vez mais os "famosos" delegados de informação médica deixaram de visitar os médicos para se dedicarem a visitar as farmácias.

    Isto tudo com a conivência da Associação Nacional de Farmácias (claro), da Infarmed (que aproveita o dinheiro das numerosas autorizações de colocação no mercado) e do Ministério da Saúde ( que fecha os olhos).

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